calmamente, debaixo de uma inofensiva musiquinha ambiente, no interior do supermercado?
E se o mais bárbaro criminoso deste tempo fosse afinal o vulgar e insuspeito consumidor do hemisfério norte?
Aquele que, para satisfazer nada mais do que as suas ‘necessidades’, motivadas pelos 2500 impactos publicitários recebidos diariamente e em média por cada consumidor/espectador do Ocidente, contribui decisivamente para, em simultâneo, explorar a mão de obra do hemisfério sul (que, por ser mão de obra escrava, permite que mercadorias – como vestuário ou telemóveis – consumidas no hemisfério norte se tornem baratas), dizimar os recursos naturais do planeta (através por ex. das ultra-poluentes aquacultura e agricultura intensiva ou da apocalíptica pesca industrial que elimina os últimos sinais de vida dos oceanos) ou provocar guerras e conflitos em países ricos em matérias-primas mas economicamente pobres (que vêem as suas matérias-primas serem saqueadas para acalmar o apetite do consumidor do Ocidente, reproduzindo assim ad aeternum a sua pobreza : veja-se o caso da guerra no Congo pelo controle das minas de coltan, matéria necessária ao fabrico de equipamentos electrónicos).
Enquanto existia o Bush, era sempre ele o culpado de todos os pecados das classes médias do Ocidente, como por ex. a dependência destas relativamente ao petróleo, que acabaria por determinar a invasão do Iraque. Agora que não temos mais o Bush para nos iludir dos nossos pecados, não deveríamos todos olhar para a merda que andamos diariamente a fazer no supermercado através das nossas escolhas nas prateleiras desse lugar chave, em torno do qual gira hoje todo o planeta? Por trás dessas escolhas, existem modelos de economia, de cultura e de sociedade. Escolher uma simples laranja, uma pasta de dentes ou um bife tem consequências tremendas para a economia, a cultura, a ecologia e a sociedade.
O que é geralmente barato na prateleira do supermercado tem custos sociais, culturais, ecológicos brutais. Achas que vale mesmo a pena comprares essas bananas da Chiquita ou essas postas de salmão norueguês/chileno de aquacultura que acabaste de enfiar no cesto de compras? E esses ténis da Nike?
A alternativa é simples, existe, e é cada vez mais fácil de encontrar: chama-se artesanato local e agricultura biológica; e está fora dos supermercados. Por trás dela, há trabalhadores que não são explorados, recursos naturais que não são contaminados, paisagens que não são arrasadas e não há guerras nem conflitos.
Tu escolhes o mundo em que queres viver!
(Não digas que a culpa é sempre dos outros; lembra-te: o reinado Bush já acabou.)