Archives for the month of: Julho, 2011

Julia Roberts em anúncio para a L'Oréal, 2011

O alegado irrealismo desta imagem conduziu à proibição em Inglaterra de mais um perverso anúncio a um produto do líder mundial da indústria da cosmética, a francesa L’Oréal. A notícia não seria uma aberração absoluta se todas as agências de publicidade que operam à face da Terra não fabricassem, diariamente, em cada um dos trabalhos que lhe são encomendados, exactamente o mesmo género de discurso imagético, assente sobre a deturpação caricatural da realidade.

Toda a publicidade que circula pelos mass media, digo TODA, fala aos espectadores de uma realidade que pura e simplesmente não existe, ao ponto de ser tão real aquilo que o santo padre diz todos os dias na missa quanto o mundo construído pelos publicitários.

Apesar de não fazer o consenso, esta ideia é bem velhinha. Por exemplo, em 1971, Louis Quesnel notava que «a publicidade evoca um Mundo ideal, purificado de toda a tragédia, sem países subdesenvolvidos, sem bomba nuclear, sem explosão demográfica e sem guerras. Um Mundo inocente, cheio de sorrisos e luzes, optimista e paradisíaco.» Um Mundo feliz onde, como também escrevia Vicente Romano, «as desgraças, as catástrofes, as grandes fomes e guerras, os sofrimentos e mortes acontecem sempre a outros e noutros lugares».

A publicidade, a da L’Oréal e a outra, é o reino paradisíaco da irrealidade. Geralmente, quem odeia profundamente a vida, a existência, a realidade adora loucamente a publicidade. Porque uma é a negação da outra. São os pólos opostos no interior da geografia por onde se movem os nossos corpos semi-escravizados pelos Senhores da economia.

Beijo após a cerimónia de casamento do casal masculino Ray Durand e Dale Shields, City Clerk's Office, Nova Iorque, 24 de Julho de 2011, David Handschuh

Depois de ter celebrado no Domingo passado as primeiras uniões homossexuais da sua história, Nova Iorque tornou-se uma metrópole ainda mais romântica.

Festa do casamento de Cheryle Rudd e Kitty Lambert, 24 de Julho de 2011, Doug Benz

Live Beach, com simulador digital de horizonte, Mangualde, 2011, Paulo Pimenta

Inaugurou a Live Beach em Mangualde, distrito de Viseu – como seria de esperar, os donos dos parques de campismo da costa alentejana entraram em pânico; alguns estão mesmo a pensar mudar-se para Mangualde.

A Live Beach outra vez, Mangualde, 2011, Paulo Pimenta

Big Macs, McDonald's, Washington, 2009, Paul J. Richards

Em termos de emissões de gases com efeito de estufa, cada um destes cheeseburgers, para poder chegar ao consumidor final, custou o equivalente a um trajecto de carro de 15 km!

A criação de dietas dependentes da carne tem efeitos perversos para o clima,  as paisagens e a saúde humana. Mas a carne não é a única fonte de proteínas de que o homem dispõe. Eu, por exemplo, que também sou homem não como carne há 16 anos e mesmo assim tenho força nos dedos para teclar este texto no computador e, se quiser, para me levantar desta cama e ir dar um passeio ao jardim ou ir cavar para a horta.

Ao dispor apenas de 4 caninos em 32 dentes, a dentição humana devia estimular o homem a procurar numa base diária, e não quando o rei faz anos, outras fontes de proteínas, como  lentilhas, nozes, feijão, tofu ou favas, que têm um impacto ambiental 30 vezes inferior ao da xixa de vaca.

Só nesse grande exemplo de boas práticas ambientais que é os E.U.A., farol dos povos e do universo, os 60 milhões de hectares de terras cultivadas requerem o uso de 80,000 toneladas de pesticidas apenas para a alimentação do gado. E os pesticidas, como é sabido, são os maiores amigos do ambiente. Estima-se ainda que neste país apaixonado pela ecologia, as crianças, para lá de raramente comerem as proteínas adequadas, comem 4 vezes mais proteínas do que o necessário. Daí as roupas XL.

Caro leitor, tenho perfeita noção de que estar para aqui a escrever isto ou não estar adianta exactamente o mesmo: comer carninha diariamente está no código genético da nossa cultura e a normalidade em curso decretou esse hábito como prática aceite, moralmente legítima, civilizacionalmente necessária. Portanto, como a normalidade jamais se equivoca, quando comer a próxima xixinha desfrute sem má consciência.  Se os americanos podem, porque é que você não haveria de poder?

Afinal de contas, uma geração hedonista não se devia preocupar com estas coisas.

Detalhe de portão, Flor da Rosa (Alentejo), 2011, Andrea Morgenstern

Enfim, uma das muitas questões que continuam sem uma resposta conclusiva, definitiva, convincente. Aonde começa e aonde acaba a arte?

Detalhe de portão, Flor da Rosa (Alentejo), 2011, Andrea Morgenstern

Quais os ingredientes que fazem com que uma obra seja artística?

Detalhe de portão, Flor da Rosa (Alentejo), 2011, Andrea Morgenstern

Moradia, Vimieiro (Alentejo), 2011, Pedro Duarte

Quem já viajou um bocadinho pelo mundo sabe perfeitamente que as casas portuguesas são de outra categoria. Principalmente as que têm os telhados pretos, que são, como é sabido, à prova de meteorito.

Há em Portugal uma arquitectura sofisticada que nada tem que ver com a monotonia contemporânea que se aprende nas universidades. Trata-se de uma arquitectura não-académica, portanto; uma arquitectura anti-expert que não vem nos guias turísticos e por isso ainda não foi copiada lá fora.

Detalhe de moradia, Vimieiro (Alentejo), 2011, Pedro Duarte

Esta casa, por exemplo, merecia uma patente.

eles ainda aí andam. Depois de séculos de constantes genocídios, para promover o bem estar do homem criado pelo Ocidente e exportado para todas as latitudes do planeta.

(Vídeo da autoria de Survival International.)

REPÚBLICA DOMINICANA!!

Foto promocional de resort parido de paisagem trucidada, Rep. Dominicana, 2011

Tantos Verões passados pela nossa corja política na República Dominicana acabaram por revelar-lhe a luz do progresso: a indústria do turismo.

Para lá da não menos depredadora, e ainda por cima incendiária, indústria da floresta, o turismo está-se a converter na Meca das políticas de desenvolvimento económico do Portugal (tão mas tão) moderno. Só temos de agradecer à ‘visão estratégica’ da corja política lusitana, tão bem representada por este acabadinho de estrear governo ultramegahiperneoliberal, disposto desde o primeiro instante  a pôr em prática um programa de mercantilização de todos os aspectos da nossa vida, incluindo naturalmente as suas paisagens.

Músicos de rua, vítimas da pólio e das desigualdades sociais extremas do Congo, os Staff Benda Bilili foram descobertos para os nossos ouvidos por Vincent Kenis, o mesmo que descobriu e editou na Crammed Discs os não menos interessantes e não menos actuais grupos congoleses Konono nº1 e Kasai Allstars. 

Dedicado ao José Manuel Reis, grande amante e conhecedor da nova (e da velha) música urbana africana, que me tem feito descobrir alguns dos tesouros musicais dos cinco continentes.