Archives for the month of: Novembro, 2012

A questão não é nova e de tempos a tempos os governos colocam-na, sem fazer muito alarido.

– Oh, oh Passos pá, não achas que devíamos dissolver o povo e eleger outro? Eu até já chamei a este de ‘melhor povo do mundo’ para ver se o acalmava, mas parece que não resultou.

– Já começámos a tratar disso, Gaspar. O ministro da economia está a arrebentar com a economia toda de modo a só restar emprego para os jovens que tenham cunha de um dos muitos caciques do nosso partido; e o Macedo já deu ordens à bófia para desfazer a mona dos que ficarem nas ruas a protestar…

Bem a propósito, as autoridades nacionais começaram a despachar para a Alemanha paletes de tugas entre os 22 e os 35 anos com o único denominador comum de terem ganas de fazer qualquer coisa da vida, o que é potencialmente perigoso para a ordem estabelecida por Passos, Relvas, Macedo e Portas – apesar da ASAE admitir apenas 20 indivíduos por palete, emigrantes portugueses que trabalham há 3 meses no porto de Hamburgo disseram ao Paisagens Contemporâneas que chegaram a retirar do porão de vários navios paletes com mais de 50 tugas espalmados…

Em troca do envio de tugas fresquinhos, acabadinhos de sair das universidades e cheios de sangue na guelra, Merkel, na visita a Portugal, comprometeu-se com Passos Coelho a enviar, para este bonito jardim da Europa com fragrância de eucalipto, carradas de reformados alemães, com muita vontade de apanhar uns bons banhos de sol em frente ao Atlântico, ou seja, longe das escadarias de S. Bento.

Alemães a treinar para a vida que os espera em Portugal:

Parque em Bingen, Alemanha, pátria de Brecht, 2008, Andrea Morgenstern

Parque em Bingen, Alemanha, pátria de Brecht, 2008, Andrea Morgenstern

Parque em Bingen, Alemanha, pátria de Brecht, 2008, Andrea Morgenstern

Parque em Bingen, Alemanha, pátria de Brecht, 2008, Andrea Morgenstern

Ei-lo, para os que já não se lembravam deste marco na história da Street Photography:

Le baiser de l’hôtel de ville, Paris, 1950, Robert Doisneau

Esta representação do beijo, que marcou profundamente várias gerações, está hoje desactualizada; as gerações mais jovens desconfiam dela. Não porque Paris tenha perdido o seu encanto ou o poder para excitar os transeuntes. Mas porque hoje o mundo, para um número cada vez maior dos nossos contemporâneos, está fundamentalmente dentro daquilo que o Google Street View representa:

O beijo descoberto pelo Street View, Paris, Michael Wolf, 200

“Na zona que fica por cima da cripta subterrânea, por onde agora se faz o acesso às escadarias de acesso à residência oficial do primeiro-ministro, dois funcionários atarefavam-se ontem de manhã, em cima de um gigantesco escadote, a puxar e a fixar cabos ao longo das paredes. Horas depois, já se via o resultado do seu trabalho. No tecto em frente a uma das portas que dão acesso à traseira do antigo convento estava um pequeno objecto semi-esférico de vidro opaco: uma câmara de filmar tinha sido instalada.” (Público, hoje)

Depois do raro reconhecimento do blog Barriga de um Arquitecto, um outro leitor teve o cuidado de prestar semelhante homenagem ao Paisagens, semeando em diversos posts deste blog comentários injuriosos, expressamente dirigidos ao seu autor (eu próprio). Tamanha insistência deste leitor em reconhecer publicamente o mérito do Paisagens Contemporâneas  terá hoje uma merecida recompensa, pois finalmente publicarei um comentário seu:

“Você é um chato do pior, só diz mal de tudo, nem uma imagem que é uma foto montagem deixa escapar! Vista-se de macaquinho e vá para a selva viver!”

No fundo no fundo, bem lá no fundo aliás, são leitores destes que, pela virulência tão espontânea com que reagem, dão um sentido mais profundo à nossa faina. Um bem hajam.

“Porque me parece (desde o momento em que a polícia avançou) que o que se viveu em S. Bento foi uma autêntica e inaceitável suspensão do estado de direito, partilho o post que escrevi mal cheguei a casa e algumas notas adicionais:

O QUE EU VI: um foguete de cores a disparar em todas as direções no meio do pessoal que estava frente à escadaria e, de repente, a polícia, de forma OPORTUNISTA e COBARDE a avançar INDISCRIMINADAMENTE sobre as pessoas. E a descer dos relvados laterais para reforçar a ideia de que estava tudo encurralado.

Mas basta ver as imagens das televisões para ver quem eles escolhem para bater: não quem os enfrenta ou agride mas quem fica para trás, quem está pacificamente nos muros, quem sente que pode não fazer sentido fugir da polícia…. Os mais fáceis!!!!

PS: e não ouvi nenhum ultimato. nem eu nem ninguém ao pé de mim…”

NOTAS:

– Eu estava lá com amigos e jornalistas, todos com crianças e, por esse motivo, afastámo-nos para trás dos carros estacionados na rua lateral (a que vai dar à D. Carlos) porque queríamos estar longe da pedras e dos petardos.

– não ouvimos absolutamente nada nem sequer ouvimos quem quer que fosse a falar no tal ultimato – mas basta ver as imagens desse anedótico momento (com um polícia a tremer, com um megafone a pilhas numa mão e um papel na outra, a trás dos colegas) para perceber que, muito provavelmente, nem os polícias do outro lado ouviram o que quer que fosse….

– eu safei-me rapidamente não porque tivesse dado conta do avanço da polícia mas apenas porque algum anormal lançou um foguete pirotécnico para o meio da multidão que começou a disparar em todas as direções. Quando vi toda a gente em fuga e com medo que alguma coisa a arder rebentasse perto de nós, desatei a correr agachado por trás dos carros, protegendo a minha filha e levando-a dali para fora.
Disseram-me depois que aquela bomba/foguete terá sido lançada pelos polícia como início das hostilidades…. Se for verdade, é criminoso, porque as pessoas atropelaram-se e espezinharam-se em fuga

– quero acreditar que num estado de direito, mesmo que estivesse ali pessoas a dar tiros à polícia isso jamais lhes daria o direito de bater em quem quer que fosse…. Nem sequer no atirador, se não fosse a única forma de o neutralizar…

– Neste caso, se alguém cometeu um crime atirando pedras à vista de toda a gente, então a polícia tem de ter e usar meios que SEM VIOLAR ELA PRÓPRIA A LEI e ainda por cima de forma grosseira, lhes permitam identificar e deter os supostos criminosos e levá-los ao tribunal. Isto de decidir julgar sumariamente e infligir penas na hora a torto e a direito é medieval…

– acho que a nossa polícia (e uma boa parte dos nossos cidadãos) devem ver como a polícia norueguesa trata um imbecil que assassinou dezenas de pessoas… O sistema trata-o com a máxima dignidade e não se vinga dele…

Uma nota positiva para as massas que, apesar do pânico e do medo, facilitaram a evacuação das pessoas com crianças – acho que não fui o único para quem se abria uma espécie de túnel seguro para sair dali….

PS: não sei se era essa a intenção, mas, como é natural, a minha filha teve pesadelos com a polícia e não com quem estava a atirar pedras…

Obrigado

João Pinho

Algures em Monsaraz, 2012, foto de Andrea Morgenstern

Se fosse leão ou águia, todos saberíamos. Agora, pato…

“No meio de milhares de pessoas talvez só umas 10 (e bem visíveis) arremessavam pedras e outros objectos. Independentemente da agressão que sofreram NADA justifica o que se passou em seguida… de repente, sem qualquer aviso prévio, (embora a comunicação social e a PSP insistam que houve um aviso feito através de megafone quem esteve presente na manifestação sabe tão bem quanto eu que não se ouviu absolutamente nada e que não foi feito qualquer esforço para que se ouvisse…) a polícia carregou sobre os manifestantes com uma brutalidade sem medida e que eu jamais tinha visto na vida.

(…) A maioria das pessoas chorava e gritava “PAREM! PAREM POR FAVOR! NÃO FIZEMOS NADA!” e a polícia continuava a espancar toda a gente sem dó nem piedade e ainda com mais força! Vi velhotes a serem espancados, sei de pessoas que viram pais a serem espancados com os filhos pequenos ao colo, sei de pessoas que viram a polícia a tentar espancar uma pessoa de cadeira de rodas e vários manifestantes a rodeá-lo apanhando a pancada por ele para o protegerem.”

Sara Didelet

Há software fotográfico que melhora rostos de uma forma impecável. Com o programa Portrait Professional, por exemplo, o comum dos mortais que esteja farto da sua pele pode trocá-la sem ter de ir à farmácia.

Mas é preciso ter um ódio profundo por si próprio para se retocar desta maneira.

No entanto, há quem o faça. O que não falta por aí é quem sonhe em tornar-se vedeta de um video game.

Do mesmo modo, os políticos e promotores imobiliários que odeiam as paisagens mais maravilhosas das nossas urbes aplicam-lhes um software semelhante, deixando-as insípidas e formatadas ao gosto da burguesia nacional e do turista global.