Archives for the month of: Março, 2012

Porque é que esta forma de arte com uma estética tão extrema surgiu e se desenvolveu nas metrópoles e nos subúrbios industrializados do Ocidente (Europa do Norte e América do Norte)? Que relação têm estas paisagens com aquela estética? Será que alguma da violência da música vem da paisagem?

“The world is not a pleasant place”, ouve-se no final deste interessante documentário.

Assente sobre a ciência e o produtivismo, o socialismo idealizado por J. Bernardo (como qualquer outro socialismo, aliás), se quiser ser coerente, não requer apenas um mundo onde sejam exterminados, um por um, os povos indígenas, por serem obstáculos culturais e geográficos ao desenvolvimento quer da ciência quer do produtivismo; enfim, por serem arcaísmos repletos de irracionalismo no meio de um sistema intelectualmente perfeito e puro, que se deseja unicamente esculpido pelo racionalismo científico.

Ele requer também um mundo livre de artesãos, esses pequenos produtores/inventores que, pelo mundo fora (um mundo policentrado, cheio dessa coisa tão odiada por J. Bernardo chamada ‘multi-culturalismo’) e ao longo de gerações sem fim, nos legaram muitas das soluções de que hoje dispomos para resolver os desafios gerados pela vida quotidiana.

O mundo de J. Bernardo teria pois no seu centro único, necessariamente policiado (não costuma ser assim com os centros?), os cientistas e as fábricas, para lá das vanguardas intelectuais naturalmente. Na periferia, a caminho da aniquilação, estariam, entre outros, indígenas e artesãos; entre muitos outros, sublinhe-se. Uma espécie de mundo polpotiano (sem purgas nem torturas, esperemos) invertido, em que, ao invés de se caminhar rumo à extinção dos aglomerados urbanos (como fizeram os khmers vermelhos), se caminharia rumo à extinção do que estaria nas margens destes aglomerados.

Um mundo onde os designers industriais seriam os únicos a desenhar a matéria do nosso mundo e onde um qualquer Ikea, convertido em cooperativa ao serviço da humanidade, seria o autor exclusivo da cultura material do planeta, de Kuala Lumpur a Manaus.

O meu reaccionarismo está precisamente em lutar por um mundo poli-centrado, em que as obras de experts suecos em design industrial serão diluídas na imaginação e manipuladas pela criatividade que, doa o que doer às vanguardas socialistas, há em todos nós.

Da série "Bastard chairs", China, 2002, Michael Wolf

Em Portugal, caralho!

 

José Sena Goulão, fotógrafo da Agência Lusa que foi agredido no Chiado, conta o que aconteceu:

26 de Março de 2012 por Renato Teixeira

“(…) Começámos a subir a Rua do Carmo, depois a Rua Garret onde começámos a ver o movimento anormal de carrinhas de Polícia de Intervenção e corremos até ao sítio para onde se dirigiam. Perdi-me da Patrícia e fui direito ao rapaz que aparece em todos vídeos a tirar o sangue da testa e atirar para cima da Polícia e apenas tirei uma fotografia (a penúltima aqui). Não tive tempo para me aperceber do que realmente estava a acontecer ali. Quando me virei para trás tirei esta última que aqui está e vi que estavam a começar a avançar e que iriam varrer tudo o que estava à frente. Por mais absurdo que possa ser o comunicado da PSP que refere que nós jornalistas devemos estar atrás da linha policial (provavelmente para apanhar a cara de quem leva e não a de quem bate, como diz o Francisco Paraíso hoje no CM), foi exactamente isso que eu tentei fazer porque me vi numa situação em que iria ser apanhado no meio da confusão sem sítio para escapar. Andei na direcção deles a dizer que era jornalista em voz alta e fiz sinal para que me deixassem passar para trás da linha que estavam a fazer e foi aí que me bateram pela primeira vez na cabeça e caí ao chão. O resto as imagens mostram como foi, sendo o resultado dois cortes na cabeça, 6 pontos, ombro, costas e joelhos amassados mas acima de tudo uma sensação de medo e impotência perante tudo o que estava a acontecer. A cara do polícia que me bateu era de raiva, até a língua estava a morder. Repeti não sei quantas vezes que era jornalista em pânico e nem assim ele parou, ainda deu com mais força. Nunca pensei que aquilo pudesse acontecer cá. (…).”

(o post original está aqui)

O texto sobre ‘carjacking’ que poderá ler a seguir foi consultado hoje na página do IMTT - Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres,I.P..
Recomenda-se especialmente a leitura dos hilariantes ‘Conselhos Úteis – Medidas de Prevenção’, que dão a imagem de vivermos num clima de estado de sítio em que, antes de sair-se de casa, devem ser cuidadosamente avaliados os riscos e os benefícios dessa arriscada decisão, para concluir se se deverá mesmo ir à rua, esse perigosíssimo local que todos devem evitar.

“O carjacking pode acontecer em qualquer lugar, mas há locais considerados mais vulneráveis:

– Parques de Estacionamento

– Bombas de Gasolina

– Acessos à Residência / Saídas de Garagens

– Caixas de Multibanco (ATM)

– Locais despovoados ou com pouca iluminação

– Cruzamentos ou entroncamentos com semáforos

Conselhos Úteis – Medidas de Prevenção

• Ao entrar no veículo

– Tenha a chave pronta para entrar no seu automóvel, sem a exibir, e olhe em volta e para dentro do veículo antes de entrar;

– Não use o comando automático para abrir as portas a uma longa distância;

• Enquanto conduz

 – Conduza com as portas trancadas e as janelas fechadas;

– Quando parar num semáforo atrás de outro veículo deixe espaço suficiente para se afastar rapidamente, em caso de necessidade;

– Não se apresse para chegar a um semáforo e parar. Aproveite a possibilidade de manter o veículo em movimento;

Evite conduzir em locais desconhecidos;

Evite conduzir de noite a horas tardias e de manhã muito cedo, quando não há trânsito;

– Se tiver de viajar durante a noite, não vá sozinho;

– Não viaje com objectos de valor à vista;

– Se tiver de parar para deixar sair ocupantes do seu veículo, não se afaste sem verificar que entraram em segurança nas suas viaturas.
• Ao sair do veículo

Verifique se não está a ser seguido;

– Não deixe as chaves na ignição, mesmo que por breves instantes;

– Escolha locais bem iluminados para estacionar;

– Evite estacionar próximo de veículos de grandes dimensões que dificultem a sua visibilidade;

– Quando parar numa garagem ou estacionamento públicos tente parquear no piso térreo, evitando, se possível o uso de elevador ou escadas;

– Se entrar numa garagem com portão automático, certifique-se que este se fecha e que não foi seguido;

– Ao regressar a casa de noite, solicite que alguém dentro de casa ilumine a entrada e o receba à porta, se possível;

Não fique dentro do automóvel a descansar, comer, dormir, ler ou maquilhar-se;
• O que fazer perante pessoas ou comportamentos estanhos

– Se um estranho se aproximar do seu carro, continue a sua marcha ou buzine para atrair a atenção;

– Não abra a porta ou a janela do automóvel a estranhos;

Não pare para auxiliar um estranho cuja viatura se avariou. Se considerar que a situação é uma emergência, ligue 112.

Para reduzir o risco de ser vítima de carjacking, as autoridades recomendam que estude a possibilidade de adquirir equipamentos e/ou serviços complementares de protecção para o seu veículo. Há actualmente no mercado várias soluções com tecnologias interoperáveis, que apresentam serviços de geolocalização e imobilização dos automóveis, sistemas de alerta e alarme quando a ignição do carro é accionada, quando a viatura é elevada (para ser rebocada, por exemplo) quando a bateria é desligada ou fica sem carga. Há ainda a opção de ligar estes sistemas a centrais ou a centros de contacto, com diversas funcionalidades.

Vejam este vídeo, por favor.

Numa série de interessantes textos publicados no Passa Palavra e alguns dos quais já mencionados neste blog, J. Bernardo desfere uma crítica potente, rara e profunda, pelo seu nível de fundamentação, às teses ecologistas, poucas vezes confrontadas. Concordo com parte da crítica; mas discordo de muita coisa. No entanto, a crítica faz o seu caminho: obriga-nos a repensar velhas teses que julgávamos consolidadas, para melhor percebermos o movimento ecologista e algumas das suas fraquezas.

Foto da colecção 'Architecture of Density', Hong Kong, 2006, Michael Wolf

J. Bernardo é um pensador marxista pouco ortodoxo. Muito pouco dirá ele. Mas, como qualquer marxista, seja ele muito ou pouco ortodoxo, a urbe e a produção industrializada de bens são dois dos pilares fundamentais sobre os quais assentaria a sociedade ideal, quer dizer, socialista. O problema deste pensamento não está na escolha dos seus pilares: só um visionário louco engendraria a sua sociedade ideal sem a urbe e a indústria, privando-a assim da segurança e abundância que ambas propiciam à vida humana. O problema está na mitificação de uma e outra, que assim se furtam à análise e ao juízo do pensamento crítico. Ora, nem a indústria nem a urbe devem estar imunes à crítica. Um socialismo incapaz de perspectivá-las criticamente só poderá produzir um monstro, tal como fizeram todos os socialismos.

Na linha de produção da fábrica 'Suzhou Etron Electronics Co. Ltd', Suzhou, China, 2010, Reuters

Começo esta nova série de posts com uma nota sobre a anonimidade da vida no seio da grande urbe.

Da colecção 'Architecture of Density', Hong Kong, 2006, Michael Wolf

Átomos solitários, abandonados à mercadoria industrial que fundou o ‘homem novo’ da contemporaneidade – o ‘consumidor’ (de espectáculos) -, habitam o interior de fachadas que, melhor do que quaisquer outras imagens, exprimem a impessoalidade da vida urbana. O que escondem as fachadas imensas? O que escondem o betão e o aço? O que as torna impenetráveis? Nos fluxos do dia-a-dia, a anonimidade traduz-se num isolamento que converte cada indivíduo também ele numa fachada impenetrável.  Milhares de olhares que se cruzam na carruagem para se evitarem. Milhares de olhares que se evitam sem se cruzarem. Não há um romance no ar? Uma cena de sexo no meio da multidão? Uma pulsão descontrolada, que já ninguém ousará reprimir? E a comunidade? Onde ficou “a comunidade”?

É este mundo novo a base ideal para o socialismo que há-de chegar?

Da colecção 'Tokyo Compression', passageiros na rede de metro de Tóquio, sem data, Michael Wolf

Hoje, segundo me informou a página de estatísticas de Paisagens Contemporâneas, o blog recebeu a visita de alguém que, antes de aqui chegar, passou primeiro pelo Deus Google com a seguinte pergunta: “el portuguès de portugal es mas bello?” Este inesperado visitante procurava saber se o idioma que é falado em Portugal é mais bonito do que aquele que por ex. se fala no Brasil.

Ora bolas, parece que Deus fugiu daqui p'ra fora! Igreja de S. Francisco, Évora, 2009, Andrea Morgenstern

E então visitou o único lugar que responde a todas as nossas dúvidas: o Google, que por sua vez o encaminhou para um post meu, que nada tinha que ver com a pergunta. Google bem pode ser o grande Deus dos nossos dias, mas, nessa sua função divina, continua tão falível como qualquer um dos Deuses que o precederam.

Ocupação total das ruas da capital, via http://spectrum.weblog.com.pt/

Descubra (eventualmente) a resposta na caixa de comentários de um texto de João Bernardo.