Foto oficial de divulgação do resort L’and Vineyards, Montemor-o-Novo, 2011

Há em Portugal infinitos sintomas de estar em curso um rápido, diria mesmo fulgurante, processo de elitização da paisagem. Sem despoletar críticas nem acender discussões, num país sem tradição na reflexão sobre a paisagem, a proliferação de resorts turísticos por longas extensões da costa e por outras paisagens igualmente singulares traduz uma nova fase na história da luta de classes em Portugal, fase esta em que as classes dominantes decidiram apoderar-se de TODA a paisagem não-poluída, fértil, formosa, mercantilizável. Digo TODA.

Na ocupação das zonas mais privilegiadas do território por condomínios privados, detecta-se o mesmo fenómeno de apropriação, de posse da paisagem por uma elite. Vai longe o 25 de Abril: de um lado, a densidade habitacional da Reboleira, das Olaias, da Damaia; do outro, as áreas generosas dos condomínios, sabiamente integrados em paisagens manipuladas para agradar ao olho analfabeto do novo-rico.

Na concessão dos pontos mais vantajosos de acesso à costa marítima a marinas e portos de recreio, voltamos à mesma constatação: o país mais desigual da Europa Ocidental é-o também no acesso aos recursos mais privilegiados da sua paisagem.